DA DESCOBERTA DA ILHA
Mapas genoveses do século XIV, nomeadamente o Portulano Mediceo Laurenziano (1351), mencionam a “Insula Corvi Marini” entre as sete ilhas que compunham o arquipélago dos Açores. Não sendo claro que essa designação se refira especificamente à actual Ilha do Corvo - é possível que seja uma designação para ambas as ilhas das Flores e Corvo, como parece ser o caso no chamado Atlas Catalão (c.1375) - é provável que esta seja a origem do seu nome.
Quando em 1452 a Ilha do Corvo foi descoberta pelos Portugueses, num regresso da segunda viagem de exploração à Terra Nova por Diogo de Teive, iniciou-se uma fase de exploração, povoamento e desenvolvimento da ilha, completando uma longa história de sobrevivência envolvendo piratas, corsários e outras vicissitudes.
DA AUTOSUFICIÊNCIA DA COMUNIDADE
A severidade imposta pela imensa lonjura, a inclemência do mar e a bravura dos ventos, acabou por criar uma sociedade e cultura muito característica na ilha. A falta de provisões trazidas de outras ilhas ou territórios, situação a que frequentemente os seus habitantes acabavam por assim ficar expostos e isolados por largos períodos de tempo, muitas vezes superior a 2 anos, acabou por ditar a génese de um modelo de vida baseado na total e sustentável utilização dos recursos locais, todos de origem natural, e um espírito de autossuficiência e cooperação entre todos.
A intimidade com o mar e oceano cedo desenvolveu nas gentes locais a temeridade e a bravura frente aos elementos da natureza.
DA CAÇA À BALEIA E DA MANUFACTURA DO GORRO
Quando no século XIX se iniciou o período da caça à baleia, muitos dos armadores, capitães e embarcações provenientes da América do Norte vinham à Ilha do Corvo recrutar os seus homens. Nestas embarcações, encontramos, pela primeira vez, marinheiros escoceses e irlandeses que aproveitavam para, deste modo, também emigrar para a América. No alto-mar os marinheiros socializavam e foi aqui que os corvinos aprenderam com os seus irmãos escoceses a fazer os famosos gorros de lã, conhecidos na Escócia pelos famosos bonnet, com origem, talvez, já nos finais do século XV, e o segredo da sua intrincada feitura foi passada de geração em geração.
DAS CARACTERÍSTICAS E SIMBOLOGIA DO GORRO
Assim, na Ilha do Corvo, até pelo menos a década de 60 do século XX, existia o famoso Dia da Lã e das Ovelhas; pois o vestuário era integralmente feito de lã das ovelhas da ilha, num modelo de total autossuficiência. A lã era utilizada na sua cor crua, podendo ser branca ou castanha, mas era especialmente usada e apreciada na cor azul-anil, tingida com métodos muito artesanais e antigos, que remontam à utilização do pastel (Isatis tinctoria L., 1753) cultivado no arquipélago e levado, assim se supõe, pelos primeiros flamengos, e, mais tarde, do índigo trazido do Novo Mundo. Deste modo ficou o gorro com o seu tradicional corpo azul-índigo e os padrões a cor branca, a lembrar o mar, a espuma alva das ondas livres e as nuvens pelo céu.
Perdendo-se na bruma dos tempos, há quem diga que o padrão - a que chamam de ovelhas - que consta na barra do gorro – a que chamam também de grega -, representa e tem o seguinte significado. A parte de cima representa uma coroa e simboliza o poder e a protecção divina. A parte do meio representa as ondas do mar e simboliza a liberdade, o trabalho, a aventura, a coragem, a temeridade, a intrepidez e a bravura dos corvinos.
A parte de baixo representa a terra firme da ilha e simboliza a casa, a família e a segurança. Todo o padrão representa assim a vida dos corvinos: respeitosos do divino e do sagrado, aventureiros do alto-mar, temerários na caça às baleias, ligados à casa e à família.
DA PRESERVAÇÃO DO CONHECIMENTO
Porém, nos inícios da década de 80 do século XX, e após uma emigração dos corvinos que quase despovoou a ilha, o segredo da manufactura deste gorro veio a ficar quase totalmente perdido não fosse a senhora Inês da Conceição Mendonça de Inês (1932-2019) que num esforço de lembrança da sua meninice conseguiu retomar a sua feitura e ensinado a sua filha Rosa Mariana Mendonça (n. 1971), mantendo-se o conhecimento e a tradição.
DO NOME E DA MARCA BARRETA DO CORVO 1452
Na Ilha do Corvo, muitas coisas são absolutamente únicas, incluindo alguns termos linguísticos. Nesta ilha, os gorros sempre foram conhecidos pelos seus habitantes por ‘barretas’ e, daqui, a expressão barreta do Corvo.
Barreta do Corvo 1452 é a Marca Registada da genuína barreta do Corvo, e 1452 alude ao ano da descoberta da Ilha do Corvo pelos Portugueses. A barreta do Corvo faz parte do património histórico-cultural dos seus habitantes e simboliza uma identidade.
Este artigo é integralmente feito com produtos naturais e biodegradáveis. A sua filosofia baseia-se na ideia que as coisas esenciais e luxuosas devem ser simples, funcionais, confortáveis, duráveis e elegantes.
Actualmente, esta barreta do Corvo tem um significado especial neste mundo em acelerado processo de globalização e degradação ambiental. De facto, sendo integralmente feito de lã e com técnicas de manufactura não susceptíveis de reprodução numa máquina de produção em série, traz-nos de volta a um mundo mais humano, com mais tempo para se viver com alegria e partilha com os outros, e vivendo-se a vida em harmonia com a natureza: a vida num mundo melhor !